sábado, 4 de janeiro de 2014

SANTO ARCÁDIO, MÁRTIR - 12 DE JANEIRO


                                               
                                             

  No ano 260, a Igreja de Cristo passou por uma época de perseguições atrocíssimas. 

O furor do inferno parecia desencadeado, e insaciável era o ódio contra os discípulos de Jesus. A menor suspeita  era bastante para os cristãos se verem vexados da maneira a mais cruel. As casas eram arrombadas, os bens confiscados e as pobres vítimas desapiedadamente arrastadas ao tribunal. Cada dia era testemunha de novas barbaridades. 

Na Mauritânia os cristãos eram forçados a assistir ao culto pagão, queimar incenso aos deuses, conduzir em triunfo pelas ruas das cidades os animais destinados aos holocaustos e tomar parte nas bacanais dissolutas dos idólatras.
                                            
Eram estes os meios com que se esperava fazer os cristãos apostatarem.
                                              
 Arcádio, vendo estas abominações se realizarem em Cesaréia, sua cidade paterna, fugiu para não se expor ao perigo de fraquear e retirou-se para um lugar ermo, onde serviu a Deus em orações e obras de penitência.
                                            
Como, porém, fosse cidadão de destaque, essa fuga não podia ficar desaparecida. 

Notou-se-lhe a falta nos sacrifícios e o prefeito mandou soldados, que o trouxessem. 

Achando fechada a casa de Arcádio, arrombaram a porta, julgando talvez surpreendê-lo em algum ato religioso, que o comprometesse. 

Em vez de Arcádio, encontraram-lhe um parente, que por acaso lá se achava. Este procurou todas as razões para justificar a ausência de Arcádio. Em vão. 

Os emissários prenderam-no e levaram-no à presença do prefeito. Este deu ordem para que ficasse detido na prisão até que se resolvesse a denunciar a paradeiro do parente.
                                               
Quando o Santo soube do ocorrido, voltou livremente para a cidade e apresentou-se ao juiz.

 “Eis-me aqui – disse-lhe – se me procuras a mim, põe em liberdade o inocente. 

Cá estou, para te responder ao que de mim desejas saber”. Respondeu o juiz: 

“De bom grado desculpo a tua fuga e garanto-te que para o futuro nenhum vexame sofrerás, contanto que, embora tarde, ainda sacrifiques aos deuses”. 

Arcádio: “Que idéia fazes de mim, propondo-me tal coisa? Conheces os cristãos? 

Pensas que intimidas os servos do Senhor com a expectativa de perder esta vida fugitiva, ou com ameaças de morte? 

Sabemos que está escrito: Cristo é minha vida e a morte meu lucro. Vai, excogita tormentos que ultrapassem todas as dores, exercita teu cérebro na invenção de todas as maldades possíveis: jamais nos separarás do Deus verdadeiro”.

                                              
 Chegou ao auge o furor do juiz, que em nada mais pensava senão ditar para Arcádio uma sentença de morte de todo extraordinária.

 Toda a sorte de martírios, até então aplicados, pareciam-lhe suaves para este provocador blasfemo. 


Finalmente rompeu o silêncio, dando a seguinte ordem: 

“Que Arcádio tenha uma morte lenta e cruel. Cortai-lhe todas as articulações, todas as juntas do corpo, começando pelos dedos. 

Não vos precipiteis no vosso trabalho, tendes muito tempo; assim ele compreenderá sua miséria; compreenderá o que significa abandonar os deuses de seus pais e adorar uma divindade desconhecida”.














Os algozes meteram-se logo à obra e executaram ao pé da letra a horrível sentença.

 O mártir de vez em quando rezava: “Ó meu Deus, ensinai-me vossa sabedoria!”

 Quando os carrascos nada mais tinham para cortar, restando apenas o tronco banhado em sangue, o herói, vendo todos os membros cortados, exclamou: 

“Felizes de vós, bem-aventurados membros, que tivestes a honra de servirdes ao vosso Deus! Nunca me fostes tão caros, quando unidos ao meu corpo, como agora. Regozijo-me de ver-vos  separados de mim! Assim convém que por algum tempo estejamos separados, para depois podermos ir ao encontro de nosso rei na eterna glória. 

Em vez de mortais, me sereis restituídos como membros imortais, agora sois membros de Cristo, como sei que sou de Cristo e nisto vejo realizado meu único e ardente desejo”. 



 Dirigindo-se aos circunstantes, disse: 

“Pouco vale serdes testemunhas de um espetáculo tão pouco comum. Facilmente o suporta aquele que acredita na imortalidade futura. Abandonai os vossos deuses que em nada vos podem auxiliar. Reconhecei a meu Deus, que me fortalece. 



Morrer por ele é viver; sofrer por ele é gozar. A sua caridade não tem fim; sua honra cada vez mais aumenta. Meu sofrimento faz com que eu viva eternamente com ele sem jamais dele me separar”.

                                             


  Ditas estas palavras, entregou o espírito a Deus. 

Os próprios pagãos ficaram admirados da coragem e da paciência deste glorioso Mártir. 

Os cristãos louvaram a Deus, que dá força aos que o amam e lhe servem com toda a dedicação.

 Juntaram as relíquias do mártir e guardaram-nas com todo respeito.













Santo Arcádio consta somente no Martirológio Romano, o seu nome não aparece em nenhum do Oriente.

 Isto porque, o precioso documento do culto deste santo foi levado para Verona, pelo primeiro bispo desta diocese, chamado Zenon, de origem africana e nascido na cidade do mártir. 

Parece que ele trouxe consigo a Ata onde foi narrado o martírio de Arcádio e o difundiu entre os cristãos através dos seus sermões, logo no início de seu apostolado no território italiano.





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