Santa Filomena (século III) é considerada "santa virgem e mártir", cuja veneração pela Igreja Católica Apostólica Romana iniciou-se em meados do século XIX.
Serva de Deus Maria Luisa de Jesus (1799-1875)
Essas revelações, por obediência ao seu diretor espiritual, foram transcritas e a veracidade de seus escritos foi atestada pelo Santo Ofício (atual Congregação para a Doutrina da Fé) em 21 de dezembro do mesmo ano.
Índice
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Revelações de Santa Filomena
Santa Filomena nasceu, segundo a crença, numa cidade-estado da Grécia, filha de pais nobres.
Ainda muito jovem, aos 13 anos, foi prometida ao Imperador Diocleciano
para ser sua esposa em troca da pacificação de confrontos políticos.
O
Imperador, por sua vez, "impressionou-se com a beleza da jovem".
Como
Filomena se recusasse a casar, porque havia eleito o "próprio Senhor
Jesus Cristo para seu esposo", o "tirano" ordenou, primeiramente, que a
"colocassem num cárcere e a flagelassem sangrentamente".
Tendo sido curada miraculosamente deste suplício, foi ordenado que ela fosse "lançada ao rio Tibre
com uma âncora amarrada ao pescoço".
E como a "correnteza a levasse até
a margem do rio", apesar da âncora, mandou Dioclesiano que a "ferissem
com flechadas". Com o corpo todo ferido pelas flechas, a jovem foi
"lançada novamente no cárcere".
Entretanto, no dia seguinte, conta a
tradição que "Filomena foi encontrada com o corpo sadio e sem qualquer
marca de ferimento". O "cruel tirano" ordenou, então, que a "ferissem
com flechas em chamas".
Estas, porém, "voltaram-se contra os arqueiros,
matando a muitos". Por fim, "foi a heróica jovem decapitada, por ordem
do Imperador".
Restos mortais
No dia 24 de maio de 1802, os ossos de uma mulher entre treze e quinze anos foi descoberto no cemitério de Santa Priscila, nas escavações das catacumbas em Roma
por um pedreiro.
Foto do local onde foi encontrada a tumba de Santa Filomena, nas catacumbas.
Avisou-se Monsenhor Ponzetti, então o Guarda das
Santas Relíquias, que ordenou que se parasse de quebrar o que quer que
fosse.
No dia seguinte, 25 de maio de 1802, acompanhados pelo padre
Filipo Ludovici, desceram às catacumbas para assistir À abertura total
da sepultura.
Lá foram encontrados uma ânfora com uma substância,
notoriamente "sangue seco" e uma palma, símbolos do martírio.
A
sepultura estava lacrada por três placas com a seguinte inscrição:
LUMENA (primeira placa) PAXTE (segunda placa) CUMFI (terceira placa)
A sepultura foi documentada por Monsenhor Ponzetti, Guarda das Santas
Relíquias, como FILOMENA, uma interpretação do epitáfio de acordo com o
antigo costume de se começar as inscrições pela segunda placa e também
pela lógica do contexto etimológico.
O epitáfio inteiro lê-se, segundo
sua interpretação pois
PAX TECUM FILUMENA
O nome de Filomena foi oficialmente atribuído pela Igreja Católica
aos restos examinados em 25 de maio de 1802 e inscritos no documentos
publicado por Monsenhor Ponzetti, que enviou os despojos dessa mártir cristã à Diocese de Nola (Itália) aos 8 de junho de 1805.
Os símbolos encontrados no epitáfio do sepulcro de Filomena.
Veneração
Graças à assistência de Monsenhor Bartolomeo de Caesare, Bispo de Nola (Itália), o padre Francisco de Lucia (1796-1847), pároco da Igreja Nossa Senhora das Graças, da cidade de Mugnano del Cardinale (Itália), desejou levar as relíquias de um santo para sua paróquia e foi à Santa Sé em Roma para solicitá-las.
Quando estava na Capela do Tesouro (onde ficavam as sagradas
relíquias), dentre tantas apenas três possuíam nomes: um adulto, uma
criança e Santa Filomena. Quando ajoelhou-se diante das relíquias de
Santa Filomena, alegou que "sentiu-se possuído de uma alegria espiritual
jamais experimentada". Sentiu também um "incontrolável desejo de levar
aquelas Sagradas Relíquias para sua igreja em Mugnano".
Terminada essa visita, dirigiu-se ao Sr. Bispo de Potenza e ficou sabendo então que "precisaria de uma graça muito especial, ou talvez um milagre".
Não havia precedentes de a Santa Sé
haver confiado tão preciosos tesouros à guarda de um simples sacerdote.
E nesse caso seria praticamente impossível, por se tratar das relíquias
de uma virgem mártir cujo nome era conhecido.
Tendo caído gravemente enfermo, padre Francisco "recorreu ao auxílio" de Santa Filomena, prometendo tomá-la como especial Padroeira e levar suas relíquias para Mugnano del Cardinale,
caso obtivesse autorização para tanto.
Curado milagrosamente, retornou
então à Santa Sé narrando a graça alcançada e obteve o pedido, levando
triunfalmente as relíquias para sua paróquia em 1º de julho de 1805,
onde até hoje se encontram.
Assim que lá chegou começaram a acontecer
tantos milagres que ia gente de toda a Itália e Europa a pedir e
agradecer graças alcançadas.
Milagre do Século
Já em 1833, o Bispo Anselmo Basilici, da Diocese de Nepi e Sutri
(atual Diocese de Cività Castellana), pediu a abertura do processo de
canonização de Santa Filomena em virtude das inúmeras "graças" que
vinham sendo relatadas, obtidas alegadamente através da "jovem mártir".
A cura da jovem Pauline-Marie Jaricot (1799-1862) foi fundamental para a divulgação da devoção a Santa Filomena pelo mundo católico.
Seriamente doente de uma enfermidade cardíaca e já desenganada pelos médicos, decidiu sair em peregrinação a Mugnano del Cardinale
para rezar junto aos restos mortais de Santa Filomena.
Partiu da França
e, ao chegar à Itália, dirigiu-se a Roma, onde pediu em audiência ao Papa Gregório XVI que ponderasse sobre a canonização
de Santa Filomena caso ela voltasse curada.
O Supremo Pontífice
responde que sim, convencido de que Pauline, alegadamente moribunda,
apenas precisava de uma consolação espiritual e que ele não poderia
negá-la.
Pauline Jaricot chegou a Mugnano após uma viagem, dita extenuante,
sob o calor do verão italiano do mês de agosto, às vésperas da festa de
Santa Filomena.
No dia seguinte ela comungou e desmaiou: pensou-se que
ela estava morta. Recomposta do desmaio, ela pediu que a levassem até o
relicário de Santa Filomena, onde foi curada milagrosamente.
O reitor da
Basílica tocou os sinos para anunciar a novidade, enquanto o povo
exultava de alegria, com o que se chamou de "Milagre do Século", aos 10
de agosto de 1835.
Após passar alguns dias em Mugnano del Cardinale, rezando e agradecendo, ela voltou a Roma, onde o Papa Gregório XVI aprovou o culto a Santa Filomena aos 13 de janeiro de 1837.
Primeira imagem de Santa Filomena, Mugnano, Itália.
Crescimento da Devoção
Os Papas foram generosos com Santa Filomena. O próprio Papa Gregório XVI concedeu-lhe, além a aprovação do culto público, um ofício, uma missa especial e uma leitura própria no Breviário (atual Liturgia das Horas).
O Papa Leão XIII
aprovou o uso do famoso "Cordão de Santa Filomena", assim como eregiu a
Arquiconfraria de Santa Filomena na França. Por sua vez São Pio X
estendeu a Arquiconfraria de Santa Filomena para o mundo inteiro.
Assim, a popularidade dela logo se espalhou, sendo seus mais memoráveis
devotos João Maria Batista Vianney, Madalena Sofia Barat, Pedro Eymard, e Pedro Chanel, todos eles santos da Igreja Católica Apostólica Romana.
Controvérsias
Já em 1904, uma publicação feita pelo arqueólogo Orazio Marucchi (artigo na Wikipédia em inglês) (Osservazioni archeologiche sulla Iscrizione di S. Filomena dans Miscellanea di Storia Ecclesiastica, Vol. 2, 1904, pp. 365–386) colocou em dúvida a existência histórica de Santa Filomena. Ele defendia fundamentalmente quatro postulados:
1. As placas deveriam estar em ordem direta e não indireta (como
estavam) o que constituía um indício de que haviam sido reutilizadas,
podendo pertencer, portanto, a qualquer outra pessoa ali enterradas;
2. O que havia na ânfora não era sangue, mas perfume ressecado, o que invalidaria a teoria do martírio;
3. Nem mesmo as placas e o sangue juntos são provas de que os restos que ali jaziam eram de uma mártir;
4. O único relato disponível sobre a vida de Santa Filomena eram as
revelações de Maria Luisa de Jesus, fantásticos por natureza, sem
caráter histórico nem científico.
Todos esses argumentos foram refutados na mesma ocasião (1906) pelo professor católico da Pontifícia Universidade Gregoriana Giuseppe Bonavenia, jesuíta, e pelo arqueólogo católico J. B. Rossi, especialista em paleoarqueologia cristã no livro "Controversia sul celeberrimo epitaffio di Santa Filomena, V. e M.".
No entanto, a semente da dúvida já estava lançada.
A questão tomou mais
corpo ainda quando, em 14 de fevereiro de 1961, a Congregação dos Ritos
publicou um ato no qual excluía a celebração litúrgica de Santa
Filomena, o que levou muitas pessoas, desde então, a afirmar que
"Filomena não é mais santa".
Respostas à controvérsia
Convém lembrar que Santa Filomena nunca foi incluída no Calendário
Geral Romano (de uso universal), mas desde 1837 foi aprovada sua memória
para ser celebrada apenas em alguns lugares.
A edição de 1920 do Missal Romano
incluía uma menção a ela em 11 de agosto, na seção intitulada "Missae
pro aliquibus locis" (Missas para alguns lugares), com uma indicação de
que a missa a ser usada naquelas ocasiões era a Comum de uma Virgem
Mártir, mas sem oração coleta própria.
Já no missal de 1962, a edição constituída para o uso como forma extraodinária do Rito romano também não a mencionou.
Mesmo sem ter sido incluída na versão revista do Martirológio Romano,
publicado em 2001 pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos, o que daria um esclarecimento substancial à devoção a
Santa Filomena, um congresso foi levado a cabo pelo Reitor da Basílica
de Santa Filomena, Monsenhor Giovanni Braschi, aos 9 de maio de 2005, em
Roma,
contando com a participação, entre outros, do Doutor Carlo Lalli,
cientista católico do "Istituto delle Pietre Dure di Firenze" (Florença),
responsável pelos estudos científicos sobre as placas e o suposto
sangue ali encontrados, e do professor Jos Janssen, jesuíta responsável
pelo relato histórico do ponto de vista religioso, entre outros.
Por essa ocasião, os seguintes pontos foram esclarecidos:
1. As relíquias encontradas em 1802 são comprovadamente de uma jovem mártir, conforme atestou a Santa Sé na ocasião;
2. O culto a Santa Filomena foi aprovado oficialmente pelo Papa Gregório XVI em 1837;
3. Dezenove atos da Santa Sé, ao longo do reinado de cinco Papas atestam, afirmam, promovem e incrementam o culto a Santa Filomena, o que por si nada prova.
4. As conclusões arqueológicas de Oracio Marucchi foram devidamente
"contestadas" já em 1906 e ainda em 1963 pelos estudos feitos pelo padre Antonio Ferrua, jesuíta, arqueólogo e secretário da Comissão Pontifical de Arqueologia Sagrada e professor de arqueologia da Pontifícia Universidade Gregoriana;
5. A supressão de 1961 é litúrgica, isto é, diz respeito à missa própria e leituras do Breviário (Liturgia das Horas),
e não à santidade em si de Santa Filomena, cuja canonização procedeu-se
como pede a praxe (isto é, através de um milagre que de fato foi
verificado, estudado, analisado e aprovado);
6. O Martirológio Romano
não constitui uma compilação exaustiva de todos os mártires ou supostos
santos reconhecidos pela Igreja, nem a Congregação para o Culto Divino e
a Disciplina dos Sacramentos jamais teve tal intenção (contudo, contém
quase todos os santos que foram canonizados pela Igreja Católica,
havendo sim exceções).
Datas Relevantes no culto a Santa Filomena
Além da Missa, que é o centro da vida da Igreja Católica, Santa Filomena também é frequentemente honrada com o Ofício da Liturgia das Horas,
ambos retirados do chamado "Comum das Virgens" (podendo, no entanto,
também ser honrada com os Ofícios do "Comum dos Mártires").
Paralelamente, para os devotos de Santa Filomena, algumas datas do
calendário civil são importantes, uma vez que remetem a fatos
importantes da vida da mesma. São elas:
a. 10 de janeiro: nascimento de Santa Filomena;
b. Domingo depois de 10 de janeiro: Patrocínio de Santa Filomena;
c. 25 de maio: celebração do reencontro do corpo de Santa Filomena;
d. 10 de agosto: celebração da transladação do corpo e do martírio de Santa Filomena;
e. 11 de agosto: festa litúrgica de Santa Filomena;
f. 13 de agosto: celebração do nome de Santa Filomena;
Tendo em vista a antiquíssima tradição que considera o dia da morte terrena dos seus santos como sendo o dia de seu nascimento para a vida eterna, a Igreja Católica (em função do martírio de Santa Filomena ter ocorrido em 10 de agosto) costuma promover suas festas patronais, paroquiais e devocionais durante todo o mês de agosto.
Objetos Devocionais
Paralelamente, a Igreja Católica aprova e incentiva o uso dos chamados "Sacramentais", que são objetos que não sendo Sacramentos,
ajudam os fiéis na recepção dos mesmos.
No caso de Santa Filomena, o
uso dos Sacramentais já é tradicional, difundidos desde o início da
devoção a essa santa na vida da Igreja Católica por uma dos primeiros e mais ilustres devotos de Filomena, São João Maria Batista Vianney.
Os "Sacramentais" de Santa Filomena são:
a. Coroa de Santa Filomena: é um pequeno rosário formado por
uma medalha de Santa Filomena, onde se reza um "Credo"; três contas
brancas, onde se reza um "Pai Nosso" em cada uma das contas, para honrar
as três pessoas da Santíssima Trindade;
e treze contas vermelhas, que fazem menção ao sangue do martírio de
Santa Filomena, onde se rezam a jaculatória "Santa Filomena, pelo vosso
amor por Jesus e Maria, rogai por nós".
b. Cordão de Santa Filomena:
é um cordão de Crochê
feito com linha vermelha e branca, trançadas uma na outra.
A linha
branca faz referência à pureza e a vermelha, ao martírio de Santa
Filomena.
O cordão, benzido por um sacerdote, é geralmente usado pelo
devoto atado à sua cintura.
c. Óleo de Santa Filomena: é um óleo comum benzido, que os devotos
costumam aplicar em pequeníssimas doses no corpo e até mesmo consumí-lo,
tendo em vista a cura de enfermidades.
É benzido apenas no dia 10 de
agosto e unicamente no Santuário de Santa Filomena, na Itália, pelo padre reitor do mesmo.
Status Atual da Devoção a Santa Filomena
A devoção a Santa Filomena espalhou-se pelo mundo principalmente através do grande fenômeno que foi a Emigração italiana de fins do século XIX e começo do século XX, cujos imigrantes levaram suas devoções para os países onde se estabeleceram.
Assim, fora da Itália, encontram-se fiéis devotos de Santa Filomena no Brasil, Estados Unidos e Austrália, por exemplo.
Uma vez suprimidas as concessões litúrgicas pelo ato de 1961, a atual missa em louvor a Santa Filomena é tirada do Comum das Virgens, assim como a Liturgia das Horas,
o que exalta o caráter cristológico da mesma devoção.
Só dessa forma a
devoção a Santa Filomena - assim como toda e qualquer outra devoção -
atinge sua finalidade, que é a de ser testemunho de vida cristã para os
membros da igreja. Nessa dimensão, e apenas nela, o martírio e a
virgindade atingem o seu ápice, que é o próprio Jesus.
Ó DEUS,
QUE HOJE NOS ALEGRAIS COM A COMEMORAÇÃO DE SANTA FILOMENA,
CONCEDEI QUE SEJAMOS AJUDADOS PELOS SEUS MÉRITOS
E ILUMINADOS PELOS SEUS EXEMPLOS
DE CASTIDADE E FORTALEZA.
POR NOSSO SENHOR JESUS CRISTO,
VOSSO FILHO,
NA UNIDADE DO ESPÍRITO SANTO.
AMÉM
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